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Na adega evaporada, ou o que ficou do perfume

Descarnados, os ambientes arquitetônicos revelam suas estruturas: pisos e tetos em diálogo, colunas e vigas aparentes, paredes que se encontram, passagens que revelam novas paredes. Na pauta da representação, linhas e planos criando a ilusão de um espaço tridimensional. E então percebemos a quietude dessas superfícies maceradas ecoando em fragmentos de horizontes distantes. Paisagens construídas, paisagens isoladas.

 

A depuração verificada na pintura de Fernanda Valadares (São Paulo, SP, 1971) passa pela própria técnica adotada, a encáustica. Nesse processo remoto e vagaroso, em descompasso com as tecnologias e a velocidade do tempo em que vivemos, a cera de abelha, base do pigmento, vai sendo aquecida e aplicada sobre o suporte, camada sobre camada. Do adensamento da matéria resulta o adensamento da pintura, que pode manifestar-se delgada e translúcida, opaca e cremosa, lisa ou texturizada. Fernanda fez seus primeiros trabalhos em encáustica na década de 1990, mas só a partir de 2007 passou a adotá-la sistematicamente, regida pela temporalidade reclamada pela técnica e encontrando-se a si mesma, no ateliê insular, janelas voltadas para o céu. Ali, num movimento físico, mental e espiritual, vem resgatando e refinando paisagens externas e internas, experiências e memórias: contemplação, compreensão, essência.

 

Esta é a segunda exposição individual de Fernanda Valadares, artista que faz da pintura e seus processos uma forma de pensar e estar no mundo. Nessa adega evaporada, não procure ruídos, aprecie silêncios.

Paula Ramos, 2014



texto para a exposição

“Na Adega Evaporada”, MAC/RS, Porto Alegre, 2014

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