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No Álbum de Família de Susana Bianchini, a construção das figuras deriva, em sua maioria, de fotografias. Há, porém, uma edição das informações provenientes das fotografias: alguns elementos são apagados, outros mudam de proporção ou de localização. O procedimento de cortar e colar, característico do modo de organizar pensamento e texto em nossos dias, aparece nos deslocamentos sofridos pelas figuras entre a fotografia referencial e a imagem pintada. Susana utiliza imagens de sua família, imagens de viagens ou imagens de fotografias que aleatoriamente aparecem em seu estúdio.
A partir desse arquivo pessoal, organiza suas pinturas como mapas de subjetividades, onde as imagens, assim como os sentimentos são permutáveis. Ou como a superfície de um jogo, onde as peças mudam quando o jogo avança e as regras são colocadas em ação. Aqui, porém, as regras são as regras da pintura, e vão se estabelecendo na medida em que a fatura acontece e estabelece um atrito do conceito com a matéria.
Essas pinturas trazem na franqueza de sua superfície a complexidade de referências inevitável à produção de imagens na atualidade. São pinturas onde oscilam diversas camadas de sentido e significado. O álbum de família que sua pintura simula, guarda esquecimentos, apaga fisionomias, mistura tempos e sentimentos. O íntimo escapou pela mesma porta por onde entrou a pintura, que agora, preguiçosamente instalada na casa, torna-se a única imagem a ser lembrada. A única imagem desse álbum de família.

 

Fernando Lindote, 2012


Texto para o catálogo da exposição álbum de família fundação BADESC, Florianópolis, 2012.

ÁLBUM DE FAMÍLIA

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