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Silvana Leal começa com uma sutileza que ganha o jogo logo de saída. Ela brinca com o real, fantansiando-o de falso. É um convite para os olhares argutos. Quando se depara com suas fotos a primeira impressão é a de que elas são manipuladas eletronicamente no computador numa inversão de cores. Com este jogo, ela exclui os olhares rasantes, e fica somente acessível aos de profundidade. Só trabalha com a realidade, sem manipulação, e as cores de suas fotos vem embebidas de poesia e liberdade. Ela desaprisiona o corpo numa dança de celebração em coreografias prenhes de sugestões que criam  o imaginário da graça do corpo e de  sua ação no movimento da liberdade.

Muitas exposições, atualmente, sobre o CORPO, estão sendo realizadas em galerias e museus. É um fenômeno estranho, quanto maior a dissociação do corpo mais a necessidade de falar sobre ele. Nietzschaniamente falando, é como se um sombrio Sócrates separasse pela milionéssima vez, o corpo e a mente. A revolução de comportamentos dos anos 60 e 70, elevaram a graça do corpo e do ato sexual num apanágio de liberdade. Como Toda Nudez Será Castigada, grande Nelson!, o estigma da punição se manifestou num virus estranho, o do HIV. E o corpo, sua celebração e memória foram relegados e quase esquecidos, portanto esta necessidade de falar dele, o CORPO, no sentido mais intelectual possível, que sempre denota uma tristeza de memórias. Mas, Silvana Leal é uma subversiva. Com suas fotos, com significâncias tão prenhes de sugestionabilidade, retoma o caminho inicial. O convite nunca é explicito, mas sugestionado e Silvana Leal, como uma sacerdotiza pitágorica, apenas aponta para esta coreografia epidérmica de danças celebratórias de união e leveza. Silvana entende disto. Além de poeta e fotógrafa, ela é modelo, em todos os sentidos da palavra. É extremamente difícil escrever sobre Silvana Leal porque ela é um continente. Seu manifesto-elucidação de seu trabalho TODOCORPO recria pegada por pegada, vislumbre por vislumbre, insight por insight, sua ação. Acrobata, sintetiza sua ­poesia, seu ideário libertário em imagens.
Tudo o que se pode escrever ou falar remete a ela mesma, uma arauta auto-suficiente. O meu trabalho, como artista e visionário, e nunca como intelectual, é apenas o de apontar o incrível fenômeno do continente Silvana Leal.

 

José Roberto Aguilar, 2005

O CONTINENTE

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