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As obras de Dirce Körbes em exposição em Roma, na Galeria Tartaglia, têm sido ampalmente apreciadas pelos valores estéticos e cromáticos em exposições individuais e coletivas anteriormente realizadas no Brasil e em vários países europeus. Suas obras têm uma característica particular: o caloroso convite para refletir sobre as situações e fatos que, sobretudo em nossa época caótica, encontramos ao longo do caminho cotidiano.
Pode ser que ela tenha sido inspirada por uma urbanização selvagem, a descoberta de lugares esquecidos,  lugares de vida degradados, contrastes naturais de cores, concreções de afrescos reais ou virtuais desgastadas pelo tempo, ferrovias abandonadas, sobreposição aleatória de objetos não utilizados, vistas de ruas de pedestres atravessadas com alusão ao trânsito, os percursos das artérias a formar imagens caleidoscópicas. Enfim a vida diária em suas variações ocasionais e temporais.
Nesta exposição, de fato, Körbes confirma plenamente sua excepcional sensibilidade para representar e transformar a realidade aparentemente trivial. Ela prefere a aproximação com as relíquias ocasionais que lhe dão uma oportunidade para ampliar a idéia que brilhou dentro. Em seguida imagens primordiais e os pensamentos são transformados em magníficas obras que transmitem sentimentos e alusões, pensamentos e imagens, todos enriquecidos com valores calmantes que convidam à reflexão e gratificam-nos, dando-nos um gozo estético constante.
Esta tendência não é exclusiva, mas sempre clara. Ela é evidente imediatamente   quando olhamos a obra,  sem pensar em busca de significados ou razões específicas que levaram a artista a expressar-se.
Se observarmos, por exemplo, o quadro que tem como assunto uma provável ruína, um  provável afresco, fascinante embora não inteiramente decifrável, no entanto, insignificante como individuação do tema, mas certamente cheia de denotações estéticas. O sentimento que experimentamos somente durante o impacto inicial é tão convincente como esclarecedor e o pensamento ou o coração, afetados por fortes emoções, nos levam de volta a experiências pessoais que tivemos em nossa vida cotidiana.
Visto desta perspectiva, o trabalho de Körbes mostra, além de profundos valores estéticos, uma graça de sabedoria: a necessidade de refletir sobre o excessivo progresso, sobre a agressiva tecnologia, sobre a exasperada necessidade de renovação diária. Não se trata obviamente de negar o novo, como poderia-se pensar mas, ao contrário, se trata da necessidade de adquirir o já vivido para  amalgamar com o presente, para recuperar o que foi, para integrá-lo com o futuro.
Suas pinturas são absolutamente desprovidas de discrepâncias, nada é demais e tudo parece necessário para conferir `a obra a medida certa, o valor correto.
As obras de Körbes podem ser interpretadas de diversas maneiras, como deve ser, porque a verdadeira arte, que é precisamente a de nossa artista, não pode ter limites de interpretação. Parece-me, e assim eu gosto de interpretá-la, que essa se configura  como a procura de um equilíbrio que, neste nosso tempo muito caótico,  aparentemente perdido, oprimido por um modernismo excessivo muitas vezes  é reduzido a uma desolação inanimada.
Recuperando o que perdemos, todavia sem negar a modernidade, dá-nos a serenidade que muitas vezes perdemos correndo cegamente atrás de tudo o que é moda, sem perceber que desta forma, vivemos mais como marionetes do que como pessoas    conscientes do que nos enobrece e melhora.
Esta abordagem, perseguida por Körbes com modéstia, despretensiosa, mas com um profundo senso do belo edificante, empurra o espectador a refletir cuidadosamente sobre as contradições do nosso tempo, a convidá-lo para ampliar a exploração de si  mesmo e das próprias ações diárias, ajudando-o a compreender na obra as numerosas mensagens que a caracterizam: as primeiras indicações humanas com a exaltação do testemunho de costumes e tradições que formaram as gerações anteriores. Mas também as condições sociais em geral, evidenciando as mudanças que evoluíram ao longo do tempo, os valores históricos, com a exaltação dos resultados em desuso, mas que marcaram a vida quotidiana dos antepassados, e agora continuam a ser uma testemunha do passado, talvez modesta aos olhos desta geração "supertecnologizada", mas ainda sempre válida, até suscitar no observador entusiasmo imediato e uma nostalgia pungente do passado.
Não há dúvida, ademais, que os trabalhos apresentados por Körbes na exposição brilham também, de forma notória, de espessura cromática, sábia e incisivamente  distribuída. O observador atento notará imediatamente que na técnica perseguida é banida qualquer banalidade, qualquer artifício para atraí-lo, chamando-o ao invés, com sinais particulares, muitas vezes tingido de propósito com dados estéticos e racionais, para uma parceria ativa de trabalho para individualizar a riqueza de informações que ela pretende transmitir. Esta característica expositiva gera a ansia de descobrir pessoalmente sobre o que pode ser visto como para além do aparente, que, pode parecer ao olho do destreinado um pouco encouraçado, entretanto, o que o conquista é aquele algo que a arte, quando existe, sabe revelar também ao leigo.
E deste modo que é determinada a inspiração mágica entre a obra e o observador, através da inspiração que faz a apresentação das formas de trabalho, a aproximação do observador e a mensagem emitida pela artista.

 

Arnaldo Zambardi, 2012



Texto para o catálogo da exposição na Galeria Tartaglia, Roma, 2012

 

VALORES ESTÉTICOS E CONHECIMENTO

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